quinta-feira, 21 de julho de 2011

A insustentável leveza de ser mãe

Me inspiro no título do livro de Milan Kundera (A insustentável leveza do ser- super indico a leitura... farei em breve um post sobre o livro) para escrever esse post. Ser mãe é ambíguo, o peso e a leveza também. Viver é aceitar algumas ambiguidades inconciliáveis, as vezes fingimos que não vemos, temos a tendência de tentar conciliar as coisas, mas a verdade é que nem tudo pode ser sintetizado. Impulsivamente, consideramos a leveza melhor do que o peso, que tem um significado pejorativo, e assim, nos tornamos tanto mais leves como insignificantes. 
" O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime-nos contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o fardo do corpo masculino. O mais pesado dos fardos é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da realização vital mais intensa. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.
Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra...."
Esse trecho do livro me remete a uma discussão calorosa que ocorreu na faculdade ( não pretendo entrar nos pormenores da patologia discutida), nela o professor sustentava que determinada patologia tinha como origem uma falha na relação mãe- bebê nos primeiros meses de sua vida( para a psicanálise os primeiros anos de vida são decisivos para a formação psicológica da pessoa). Como tratava-se de um assunto delicado, principalmente para as mães presentes em sala de aula, logo colocamos nossas opiniões. Eu sustentava opinião semelhante a do professor.... Juntos dizíamos que a mãe é em grande parte responsável pela patologia do filho, naquilo que tange o aspecto social e psicológico desta. A outra mãe presente revoltou-se fortemente dizendo que ninguém tem direito de culpar uma mãe pela patologia de seu filho. 
Tentamos, sem sucesso, diferenciar responsabilidade de culpa. Tem culpa aquele que causa intencionalmente um dolo a outrem. Nós mães, na maioria das vezes (espero eu pelo menos) não intencionamos causar mal aos nossos filhos.... mas somos responsáveis pelo que lhes acontece. Se meu filho cai e bate a cabeça, não é minha culpa, mas é minha responsabilidade. Se minha filha não recebe em determinado momento afeto o suficiente, por mais que eu tenha razões para não estar disponível, também é minha responsabilidade.
O que estava em questão era o quão insustentável é a leveza que pregamos. Se uma mãe não é responsável pelo que ocorre com seus filhos ela se torna tão livre de "peso" que afasta-se do que significa ser mãe. Antes de tudo, ser mãe é uma escolha. O casal decide ter um filho, decide ser responsável pela vida de outra pessoa  e de criá-lo para viver no mundo. Como podemos escolher a maternidade e abdicar do conteúdo de nossa escolha? Porque precisamos apenas nos referir a maternidade como algo lindo, leve, solto.
A maternidade é linda, porém ela traz consigo muitos sentimentos ambiguos, como tudo na vida. Por que não podemos falar sobre esses sentimentos com maior abertura? Entre a leveza e o peso, digo que devemos optar pela responsabilidade. Se queremos criar nossos filhos para o mundo, devemos, antes de tudo, escolher a responsabilidade. Se somos responsáveis pelo que ocorre com nossos filhos, podemos agir prontamente para estabelecer algum tipo de melhora. Abdicar desse "fardo" é ficar a mercê do destino, a mercê dos outros, sem ação. Nem tudo precisa ser leve, nem tudo precisa ser tãaaaao pesado. Podemos encontrar um meio termo e optar por sermos donas de nossa maternidade, donas da situação. 

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